terça-feira, 27 de janeiro de 2009

SnowBUnders em Nagano


Eu adoro o inverno no Japão. É sério, não me lembro de gostar tanto do inverno no Brasil ou mesmo na Europa, acho que é porque aqui o inverno é mais ensolarado, são poucos os dias nublados com garoa como acontece em São Paulo e em Londres. Agora pense em inverno... o que te ocorre? chocolate quente, sopa no pão italiano, fondue, pantufa quentinha, assistir tv enrolado na coberta e... temporada de esqui! Esqui não?!?! Pq?!? Esqui sim! Acho que a maioria das pessoas pelo menos 1 vez na vida já tiveram a curiosidade de esquiar ou pelo menos de visitar uma estação de esqui, acredito que a neve de uma maneira geral gera um atrativo muito grande principalmente para nós brasileiros e a maior prova disso que estou falando é o número de brasileiros que nos últimos 2, 3 anos tem espremido todas as suas economias para rolar montanha abaixo em estações de esqui no Chile, é como se de repente, Bariloche tivesse se tornado a Aspen da classe média brasileira. Bom, a questão mais importante é que agora eu faço parte desse não mais tão seleto assim grupo de pessoas que podem bater no peito e dizer: sim, eu rolei montanha abaixo! Só que no meu caso não foi em Bariloche e muito menos em Aspen. Fui para Nagano. No Japão existem várias estações de esqui e a sua prática é bem popular, principalmente entre os jovens e não tem aquele esteriótipo de que só esquia quem tem muito dinheiro... não, esquia quem quiser e tiver coragem para tal. Há um mês mais ou menos combinamos entre amigos, organizamos as nossas folgas, procuramos uma agência de viagem, alugamos um carro maior e com kit para neve, esvaziamos a nossa conta bancária e na sexta-feira passada (23) partimos rumo a nossa aventura, primeira vez de todos quanto ao esqui. Daqui até Nagano são quase 5 horas de viagem, mas a paisagem acaba te envolvendo de forma que quase não se percebe toda essa distância. É extremamente interessante acompanhar a gradual mudança da paisagem... saindo de Tóquio, logo aparecem as primeiras montanhas, cidades que começam em um vale e avançam em meio às próprias montanhas , algumas regiões de campo aberto e após algumas horas, as primeiras montanhas com o cume coberto de neve e até alguns lagos congelados, sem dúvida uma visão maravilhosa e muitas vezes até indescritível.

Quase 5h depois, chegamos ao hotel. Eu acho super prático o japanese style de alguns hotéis por aqui, principalmente para viagens curtas e quando se esta em grupo. É mais barato, cada um puxa o seu futon pra um canto e pronto! Melhor que isso só se as acomodações do hotel fossem no japanese style e o cardápio do restaurante fosse no melhor estilo ocidental, aliás, cardápio brasileiro se não fosse pedir muito, aí sim, seria perfeito. No Brasil, toda vez que Edgar e eu íamos viajar, eu fazia a seleção dos hotéis ou pousadas pelo café da manhã, a questão da acomodação propriamente dita era secundária... o quarto nem precisava ser grande coisa contanto que o café da manhã fosse O café! Por aqui até hoje eu tive que me contentar com o café da manhã no estilo japa mesmo, com todas aquelas coisas que eu nem ouso colocar na boca para saber o que é... me desculpe mas não coloco meesmo...!

Para a sexta-feira, combinamos que ficaríamos no hotel mesmo, para descansar, aproveitar o onsen e só no sábado então iríamos esquiar e foi o que fizemos. Após o jantar Edgar entrou em coma, Ricardo e Silva sairam para reconhecimento da área (pelo menos é o que dizem...) e Sophia e eu fomos para o Onsen pelo qual tanto lutamos na época de fechar o pacote na agência de viagens. Eu nunca tinha entrado em um onsen. Eu sempre via na tv japonesa os programas sobre viagem mostrando aqueles lugares lindos, geralmente em meio às montanhas e sempre havia um onsen. Pra quem não conhece, onsen é um termo japonês para águas termais. O Onsen pode ser em um ambiente interno ou a céu aberto, que é o mais legal. Imagine, você pode se banhar em água quentinhas enquanto neva a sua volta e dependendo do lugar ainda pode curtir a paisagem. No hotel onde ficamos havia o onsen coberto e o a céu aberto, que foi justamente aonde ficamos... nós duas, a neve e os -7ºC. Foi ótimo, pq na sexta ainda não havia quase ninguém no hotel, então o onsen foi só nosso... nosso até a saída, pq quando estavamos terminando de secar o cabelo entra uma japa sem noção com o filhO de uns 10 anos (lembrando que o onsen em questão era dividido por sexo)... posso até imaginar os comentários na escola na segunda-feira: "cara, vc não sabe, entrei no onsen com a véia e tinha uma gaijin lá... finalmente eu entendi o que quer dizer celulite!!"... lamentável.

Hora de dormir... eu particularmente acho que as pessoas que roncam deveriam pagar mais impostos, cada uma na sua categoria de ronco. Veja bem, quando um ser humano ronca do seu lado, ele atrapalha o seu sono, eleva o seu nível de tensão, danifica a sua audição, enfim, ele prejudica drasticamente a sua qualidade de vida. Digo mais, quando você passa a noite em claro por conta do roncar alheio, no dia seguinte, o seu desempenho no trabalho é reduzido e se vc trabalha com maquinário ou qualquer outra coisa que exija a sua total atenção, o sono em questão pode colocar a sua vida em risco, ou seja, pessoas que roncam demais podem ser responsáveis até pela morte de terceiros... pois é... pessoas que roncam deveriam pagar mais impostos e nesse caso nosso querido amigo Silva, vulgo "homem serra elétrica" estaria falido... totalmente falido!

Sábado, dia de esquiar... após o saudável e pouco ou nada apetitoso café da manhã, lá fomos nós para a estação de esqui. Friooo, muito friooo. Procura roupa, veste roupa, troca a roupa, pega o sapato, coloca o sapato, sapato errado, o de snowboard é outro... troca o sapato, pega a prancha, aluga o óculos, compra protetor de pescoço, preenche papel, leva isso aqui, leva aquilo pra lá... 1h e meia depois de muito suar nisso tudo, estavamos finalmente prontos para rolar montanha abaixo. Todos escolhemos o snowboard na esperança de ser esse o mais fácil. Não vai dar pra entrar em muitos detalhes senão eu não acabo esse post ainda esse ano, mas a primeira descida foi algo assim, como posso dizer... lamentável hauhauhauahua Sim, pq a primeira vez vc usa a prancha durante uns 5 segundos e o resto você desce na base do ski bunda mesmo... haja bunda, pela primeira vez fiquei feliz em estar um pouco acima do peso. Eu não tenho a mínima noção de quantas vezes eu caí... já começou na saída do teleférico, quando eu caí na frente do mesmo e na visão da cadeirinha maldita vindo na minha direção eu não tive dúvida: HEEEEEELP!!! ... e lá vem o japonês correndo, coitado, me tirar da frente do teleférico kkkkkkk

Edgar, viadinho, na segunda descida já pegou o jeito e pra quem nunca tinha esquiado na vida se saiu muito bem. Eu tive umas duas quedas das quais me orgulho muito, coisa de cinema, umas 3 quicadas na pista até parar de rolar... aí vc fica lá, deitado, corpo estirado na neve, refletindo sobre o seu capote... eu particularmente caí em todas as categorias... caí de lado, de cara, de costas e na quicada. A Sophia também teve uns tombos bem cinematográficos. O Ricardo até onde eu vi também conseguiu pegar o jeito do negócio e no final estava descendo numa boa. O Silva eu nem sei, até agora ainda tenho dúvidas se ele realmente estava esquiando ou se estava correndo atrás das japas.

Eu sempre ouvi que o medo é fundamental, porque é ele que nos faz ponderar, nos dá um certo limite. A primeira vez que eu olhei lá de cima da rampa eu me senti muito insegura... a impressão que dava era que se você caisse, não teria como parar até chegar lá embaixo... e como eu demorei pra conseguir chegar lá embaixo. Na segunda vez a insegurança já tinha passado, então você começa a tentar coisas diferentes pra ver se consegue se equilibrar melhor. Desde pequena, quando eu não tenho medo do que estou fazendo eu me jogo completamente até conseguir fazer o que estou me propondo, não é a toa que tenho tantas cicatrizes, só que nessa minha falta de limite e principalmente de noção, em uma das descidas eu virei o polegar direito de uma forma que quando eu vi, pensei: "fudeu, quebrei meu dedo!" e não foi nem pela dor, minhas mãos já estavam congeladas de forma que quase nem senti dor, foi mais a visão que tive do dedo virando mesmo. Quando cheguei lá embaixo, tirei a luva, o dedo estava assim meio torto hauahuahua meio fora do lugar... "ah, já quebrou mesmo, paciência, vou descer de novo..." e assim ainda desci mais 3 vezes.

Domingo, dia de voltar pra casa. Todo mundo quebradoooo, no sentido mais profundo da palavra, no estilo se respirar dói huahauahuahau mas com ânimo suficiente para ainda parar em Tóquio pra comer um churrasco amigo no Tucano´s, um dos restaurantes brasileiros que temos por aqui e assim fechar a nossa aventura com chave de ouro.

Quanto a mim, vou ficar duas semanas de molho em casa, com o dedo devidamente imobilizado... não quebrou o osso, mas rompeu o disquinho que une um osso ao outro, paciência, vai ser um prejuízo do cacete no holerite do mês que vem, mas sabe de uma coisa? VALEU! Valeu muuuito! Valeu a experiência de fazer algo que eu nunca tinha feito antes, valeu por conhecer um lugar lindo e pelas paisagens que estão guardadas não só nas fotos, mas na minha memória e no meu coração... e valeu principalmente pela compania... todas as risadas, os bons momentos, a alegria compartilhada, enfim, a oportunidade de passar um tempinho a mais com pessoas tão especiais e tão queridas. Há muito tempo eu disse uma coisa que faço questão de repetir aqui: nós viemos ao Japão em busca principalmente de dinheiro, como todos sabem, mas sem dúvida, o maior patrimônio que vamos levar daqui são as amizades que fizemos e os bons momentos que vivemos com cada um de vocês... eu posso até ser um pouco anti-social (confesso), mas talvez isso não seja tão ruim assim porque hoje, aqueles a quem chamo de "amigos" não são qualquer um... são os mais especiais! Adoro todos vocês!

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