Sexta-feira, dia de folga, sobrou mês no fim do salário, então o jeito é ficar em casa e arrumar alguma coisa pra fazer por aqui mesmo. Daqui a pouco vou assistir aos capítulos finais de uma minissérie japonesa a qual estou assistindo chamada Haru & Natsu - As cartas que nunca chegaram. O tema é a emigração japonesa para o Brasil e foi produzida em 2005 em comemoração aos 80 anos da primeira transmissão da rede estatal japonesa NHK para o Brasil, mas depois falamos sobre isso, porque é um assunto que realmente vale a pena discutir a respeito e quero terminar de assistir para então entrar nos devidos méritos...
Bom, mas estou aqui para falar de outro filme que assisti uns dias atrás... Hachiko Monogatari. Recentemente foi lançado um remake com produção americana, com o ator Richard Gere no elenco. Esse remake leva o nome Hachi - A Dog´s Story, não sei se no Brasil chegou a ser lançado nos cinemas, mas aqui no Japão ele acabou de chegar, eu particularmente ainda não assisti mas duvido que seja melhor do que o original japonês, afinal a história é japonesa. Sobre o Hachiko Monogatari, eu o recomendo e dou a minha dica: lenços, muitos lenços, acredite... vc vai precisar! Não é preciso dizer que essa que vos escreve usou vááários... pois é, antes mesmo de assisti-lo, eu já estava chorando no trailer... lamentável, mas enfim, essa sou eu, paciência né!
Para quem não conhece a história, Hachi era um cão da raça akita, nascido em 10 de novembro de 1923, em Odate, prefeitura de Akita e virou uma lenda no Japão devido a sua inabalável fidelidade ao seu dono, o renomado Professor Ueno, do departamento de agricultura da então Universidade Imperial de Tóquio. O professor Ueno já havia tido um outro Akita e quando esse morreu, devido ao sofrimento de toda a família, decidiu que não queria mais cachorros. Tempos depois, um amigo fica sabendo de uma ninhada de Akitas puros que acabara de nascer e resolve presentear o professor com um filhote. A princípio o professor exita, mas sua filha o convence dizendo que iria cuidar do cachorro, o que não acontece. Pouco tempo depois da chegada de Hachi, a filha de Ueno fica grávida e se casa às pressas, mudando-se para uma outra cidade e deixando Hachi aos cuidados dos pais. A pedido da esposa, o professor Ueno pensa em dar Hachi a uma outra pessoa, mas logo acaba desistindo começando aí a história que mudaria a vida de ambos e que ficou imortalizada nesse país e no coração de todos que aqui chegam e a conhecem. Todos os dias, pela manhã, Hachi acompanhava o Professor até a estação de Shibuya e à tarde, sempre no mesmo horário, voltava até a mesma estação para esperar pela chegada do dono. Com o tempo, esse "ritual" de Hachi começou a chamar a atenção de todos da região que admiravam a lealdade do akita e ficavam impressionados em como ele poderia saber o horário exato em que deveria buscá-lo. E assim foi durante meses, com sol, com chuva, com neve, lá estava Hachi. Em 21 de maio de 1925 Hachi, como sempre acompanha o seu dono até a estação e volta à tarde para buscá-lo, mas dessa vez o professor não chegaria, vítima de um derrame fatal. Naquele dia, Hachi o esperou até de madrugada. Algum tempo depois, a esposa de Ueno vende a casa e vai embora morar com parentes, deixando Hachi para trás, aos cuidados de outras pessoas. Passado de um para o outro, em pouco tempo Hachi passa a morar na rua, sendo alimentado por aqueles que conheciam a sua história. Mas você deve estar se perguntando: o que faz desse cachorro uma paixão nacional e o símbolo maior do amor incondicional de um animal por um ser humano? A sua resposta é simples e incontestável: Hachi continuou a esperar pelo seu dono na estação de trem por 10 anos!! Sim, 10 anos, não digitei errado... 10 longos anos!
Por 10 anos, todo santo dia Hachi foi à estação de Shibuya esperar por seu dono e no dia 8 de março de 1935 a espera de Hachi terminou... ele foi encontrado morto, aos 11 anos e 4 meses, na mesma estação onde passou toda a sua vida a espera do seu amigo.
Em abril de 1934, foi erguida na mesma estação, uma estátua de bronze em sua homenagem. Durante a segunda guerra, assim como todas as demais estátuas, a de hachiko foi confiscada e derretida para aplicação em material bélico, mas em 1948 foi organizada uma entidade em prol da sua recriação e o filho do escultor da estátua original foi convidado para dar vida novamente ao querido Hachiko. A estátua permanece na estação de Shibuya, a qual possui 5 saídas, sendo uma com o seu nome e até hoje e é um dos principais pontos de encontro da região. Em 1988, uma réplica da estátua também foi colocada na estação de Odate, cidade natal de Hachi.
Em Shibuya, pode-se ainda ver diversos ônibus com caricaturas de Hachi e anualmente, no dia 8 de abril é feita uma cerimônia solene, na própria estação, em memória a esse símbolo maior de amor incondicional e lealdade. Hachi foi empalhado e quem quiser conferir pode vê-lo no Museu de Artes de Tóquio.
Sem dúvida, é uma história emocionante que merece jamais ser esquecida!
Difícil mesmo é conseguir tirar uma foto ao lado da estátua, é algo disputadíssimo!
Eu ainda não tenho a minha, mas assim que conseguir a colocarei aqui... enquanto isso, vou deixar uma foto da estátua e uma do próprio Hachi.
Para os amigos que estão aqui no Japão eu deixo uma mensagem em especial:
A nossa rotina de trabalho por aqui é realmente muito árdua, nos consome muito tempo nos impedindo por vezes de conhecer melhor essa cultura tão diferente e tão rica. A falta de entendimento do idioma também é um fator que pesa muito nesse processo de interação, eu sei disso pois trabalho 12 horas por dia, folgo durante a semana e isso acaba me impedindo de participar dos festivais que são sempre nos finais de semana, da mesma forma o cansaço me impede de estudar mais, para aprender a falar o mínimo para uma boa conversa... mas não podemos permitir que essas dificuldades nos impeçam de aprender, de pesquisar, de viver tudo isso que está a nossa volta. Não façam como muitos outros que só levam daqui a lembrança das duras horas de trabalho e de eventuais preconceitos sofridos. Morar fora é sempre uma experiência única e tirar proveito dela depende exclusivamente de você! O Japão não se resume à Disney... visite os parques, os museus, os bairros históricos, os festivais, os templos... "sugue" dessa cultura tudo o que puder, tudo o que conseguir... o dinheiro é importante sim, foi atrás dele que viemos aqui, mas se tem uma coisa que a vida me ensinou é que dinheiro ora se tem, ora não mais... cultura, conhecimento, isso nunca ninguém irá tirar de você e nunca é demais!
Sore de ganbatte kudasai!
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Hachiko
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Acho que quase todo mundo já assistiu "Cidade dos anjos", com o Nicolas Cage e a Meg Ryan. Eu perdi a conta de quantas vezes assisti esse filme... mas o motivo de estar tocando nesse assunto é que logo no comecinho do filme tem uma cena muito legal... a menininha acaba de morrer e o anjo Seth (Nicolas Cage) vai buscá-la. Seth todas as vezes em que vai ao encontro de uma alma tem o costume de perguntar-lhe do que mais gostava na terra e quando faz essa pergunta à menininha ela sem pensar responde: de pijamas!!
Eu tb adoro pijamas, mas se algum dia um anjo for me buscar (e se for o Nicolas Cage não será nada mal...) e me fizer a mesma pergunta, sem pensar eu responderei: o nascer do sol no Japão! Eu sempre valorizei muito essas coisas, sempre gostei de olhar o céu estrelado, o nascer e o pôr do sol, a mudança das luas... ainda no Brasil, sempre que podíamos, Edgar e eu assistíamos ao pôr-do-sol, da varanda do quarto da minha sogra. Mas chegando aqui eu encontrei algo muito diferente de tudo o que eu já tinha visto antes e acredito que não exista um nascer do sol tão bonito quanto o daqui em nenhum outro lugar do mundo. Não é a toa que Japão significa justamente isso, a terra do sol nascente, pois o nascer do sol aqui é o mais poético, o mais sublime e é justamente atrás dessa vista que todos os anos milhares de pessoas se aventuram escalando o Monte Fuji no verão, para lá de cima poder ver o sol nascer acima das nuvens, quase do lado de Deus. Em época de bom tempo, quando o meu intervalo na fábrica fica por volta das 4h, 4:30h da manhã, eu posso ver esse espetáculo da janela do refeitório, e não importa quantas vezes eu o veja, a cada novo dia é uma emoção diferente, um arrepio e uma imensa alegria. Um dia eu ainda consigo uma foto para colocar aqui.
Vou deixar aqui hoje dois vídeos bem legais... um é uma animação de uma série chamada "Simon´s Cat", vou deixar o site ali nos "links legais", lá tem outros vídeos dessa série que é bem divertida, e tenho certeza de que todos aqueles que têm gatos vão se identificar nas situações. O outro vídeo é de uma música m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a, chamada Suo Gan e nesse vídeo é interpretada por um coral de meninos do King´s College. Essa música faz parte da trilha sonora de um filme de 1987, sobre a segunda guerra , do diretor Steven Spielberg, chamado Empire of the Sun, se você ainda não viu, vale a pena, aliás, esse filme trás o ator Christian Bale ainda criança e tem ainda no elenco nada mais do que John Malkovich.
P.S: Depois de 2,000 tentativas fracassadas de colocar o outro vídeo, vou deixar o link dele no youtube...
Suo Gan: http://www.youtube.com/watch?v=UM9uyA0wVIA
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Fala que eu te escuto! ( e nem é o tal programa evangélico! )
Porque as pessoas não ouvem mais? Já reparou que as pessoas estão sempre muito ansiosas pela oportunidade de falar? Na primeira oportunidade falam, falam, sobre tudo e quase que num único fôlego. Falam sobre os problemas do trabalho e aí já emendam no que tem acontecido em casa, nas desavenças em família, dos problemas conjugais, dos filhos que já não obedecem mais, do pai e da mãe que pegam no pé e não deixam fazer nada e nesse mesmo fôlego ainda sobra espaço para falar dos planos, das esperanças, da viagem do final de semana...
Só que aí quando finalmente você já ouviu tudo o que tinha pra ouvir, passiva ou ativamente, já deu todas as usas opiniões e até mesmo aqueles conselhos que estavam lá no fundo do baú, quando chega então a sua vez, se a pessoa ainda lhe conceder o favor da presença para te ouvir, provavelmente se você ao final da conversa perguntar: “O que você acha disso tudo?”, ou vai causar uma saia justa ao seu “ouvinte” (antes o fosse) ou então vai ouvir um: “Ah, é assim mesmo, tente pensar bem e fazer o que achar melhor”, uma vez que esse tipo de frase serve para várias situações. Tem também aquele ouvinte que enquanto você está falando fica olhando para todos os lados, corta o seu assunto do nada e começa a falar sobre outra coisa ou então simplesmente não presta a atenção em nada descaradamente mesmo.
Definitivamente, hoje em dia, são poucos os que ainda sabem ouvir. Cada um tem o seu próprio mundo e se fecha nele como se os seus problemas sempre fossem os mais importantes e os piores, como se as suas necessidades fossem as mais urgentes e suas angústias as piores. Só ele precisa ser ouvido. Só ele precisa de conselhos.
Isso me faz pensar: será que as pessoas fazem isso num ato de absoluto egoísmo e de forma totalmente consciente ou chegamos num ponto onde ninguém consegue enxergar além de si mesmo, não percebendo, dessa forma, o que estão fazendo ou melhor, o que não fazem.
Há ainda aqueles que nunca falam sobre suas vidas, nunca se expõem e por sua vez como nunca “alugam uma orelha” acham que não tem obrigação alguma de ouvir os outros, algo como: se eu não te encho com os meus problemas, por favor faça o mesmo por mim.”
Sim, definitivamente as pessoas se tornaram mais intolerantes, mais impacientes, mais egoístas e não estou tão certa se isso se deve ao novo estilo de vida que levamos hoje em dia. É como se o homem estivesse perdendo as suas características humanas, aos poucos está se tornando uma máquina. Talvez a solução para os “carentes” de um ouvido amigo esteja em contratar um. Vamos todos fazer psicanálise, terapia, pelo menos vamos ter a certeza de que alguém está realmente nos ouvindo. Se o problema for dinheiro, afinal terapia não é um serviço tão barato, podemos tentar um amigo cão, um amigo gato ou até um amigo beta! Imagine só, você com a cabeça quente com os problemas do escritório, chegando em casa, lá vem o Rex todo feliz em te ver, você então o pega, senta no sofá e desabafa! Pode ser uma opção e com a vantagem de que ele não vai mudar de assunto no meio da conversa e nem vai dar um conselho previamente decorado para essas situações, se ele o fizer, aí sim você estará com um problema sério e deverá procurar a ajuda de um profissional.
A verdade é que a cada dia que passa o ser humano está mais só, por mais amigos que se tenha. De repente você faz planos, se entusiasma com um novo projeto, com uma nova atividade, com um novo relacionamento e geralmente antes das coisas realmente acontecerem a gente quer falar pra alguém em quem confiamos, aquela coisa de não vou contar pra qualquer um porque vai que não dá certo, mas ao mesmo tempo você quer falar sobre isso tudo e geralmente, nesses momentos da vida, quem está disponível para “orelha” é justamente aquela pessoa pra quem você não queria contar nada.
Claro que existem mil maneiras de desabafar, sem necessariamente ter alguém pra te ouvir. Você pode contar tudo pro cachorro, pra samambaia, pode falar na frente do espelho, pode escrever no seu diário, pode postar no seu blog, pode escrever anonimamente numa comunidade qualquer de um site de relacionamentos, pode conversar com Deus... pode ainda condensar tudo e transformar em uma poesia ou em uma canção, mas a verdade é que em nenhuma dessas possibilidades você vai ouvir um: "Puxa, que legal, estarei torcendo por você!” ou então um: “Que chato, mas pode contar comigo para o que precisar!”, isso com certeza será sempre insubstituível.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Fala sério!!!
Me lembro que na época da escola eu adorava as aulas de geografia e detestava as de história, na verdade a única coisa em história que realmente me interessava era o estudo das civilizações da antiga Grécia e sua mitologia, todo o resto funcionava como um grande sonífero pra mim. Já as aulas de geografia me interessavam muito, sem dizer que a professora era uma figura, toda vez que a encontrávamos pelos corredores da escola ela estava a cantarolar um trecho de algum hino. Me lembro de caprichar na confecção das dezenas de mapas que fazíamos periodicamente e sempre tirava boas notas, já em história... bem, melhor pular essa parte. A questão é: se nós brasileiros, cidadãos cuja pátria só há pouco tempo passou a ser notada pelo restante do mundo e considerada como “emergente”, estudamos a história e a geografia de diversos países no mundo e nem que seja de uma maneira geral, conseguimos ter uma visão panorâmica do mapa-mundi, sabendo pelo menos discernir quem pertence a qual continente, porque ainda existe gente nesse mundo tão globalizado, cidadãos do dito mundo civilizado, desenvolvido ou como se dizia até pouco tempo atrás, “primeiro mundo”, achando que a maldita capital do Brasil é Buenos Aires?!?!?!
A verdade é que o nosso país não é muito conhecido no que vai além de futebol e carnaval e sinceramente, não há nada de errado nisso, é normal que a gente acabe sabendo somente aquilo o que chama mais a atenção no que diz respeito a um país. Todo mundo sabe que a Itália é o país das massas, que a França é a terra da Torre Eiffel, que o Japão é a terra do sushi e do sashimi, mas poucas pessoas realmente conhecem a cultura desses países, suas particularidades, dessa mesma forma, nós brasileiros somos o povo da terra do futebol e das belas mulatas... entretanto, existe algo de longe muito pior do que o anonimato e se chama “idéia equivocada”. Criou-se por aí uma idéia muito estranha de como seria o Brasil. Quem lembra da Copa de 94?? ... o ano do tetra! Exatamente no mês dos jogos eu estava na Inglaterra e o Brasil estava na boca de todos. Na cidade onde eu estava estudando as ruas foram enfeitadas com as bandeiras dos países europeus que estavam na disputa e me lembro de que os outros estudantes sempre me pediam pra mostrar qual entre aquelas, seria a nossa bandeira, mais que isso, um dia um vizinho inglês me aparece com um mapa da Europa pra que eu pudesse mostrar a ele onde ficava o Brasil:
“Mas o Brasil não fica na Europa!!!”
“Não?!?! ...onde fica então??”
“Na América do Sul, oras!”
“América do Sul? Onde é isso??”
...pois é, lamentável. Eu nunca fui à Eslovênia, mas pelo menos sei onde fica, mas voltando ao assunto...
Conheci várias pessoas que achavam que o nosso idioma seria o espanhol e com isso não fica muito difícil entender o porque alguns achavam ser Buenos Aires a nossa capital. Mas isso ainda não é o mais estapafúrdio. Nesse mesmo período, um dia a minha “host mother” veio me perguntar algumas coisas, do tipo como era a cidade onde eu morava, como eram as comidas, as pessoas, enfim, eu tinha levado alguns cartões postais de São Paulo, naquela época nós não tínhamos a facilidade da internet para tais explicações e antes que eu os encontrasse para mostrar ela me pergunta: “Mas no Brasil existem prédios?”
“Claro!!”
“Mas prédios altos, como em Londres?”
Quando mostrei os postais de São Paulo, a mulher ficou literalmente “passada”, em uma outra oportunidade ela comentou que achava que o Brasil fosse diferente, digamos, não tão urbano. A verdade é que existem muitas pessoas que acham que o nosso país é uma grande floresta, que não temos carros, ônibus, metrô ou mesmo trem, nosso meio de transporte oficial é a jangada, a canoinha de índio. Outra coisa importante, a imagem da mulher brasileira por aí também não é uma das melhores. O ser humano de uma maneira geral adora julgar e generalizar as coisas, então, se mora na favela é bandido, se é árabe é pão duro, se é latino é feio e ignorante e se é mulher e brasileira, aí pode ter certeza de que é puta! Tudo bem que onde há fumaça há fogo, os esteriótipos sempre surgem a partir de algo verídico, mas aí entra a questão da generalização. Sabemos que o nosso país é um grande “exportador” de mulheres que vão para a Europa principalmente para trabalhar em boates, casas de prostituição e isso já foi o suficiente para a maldita associação: se é brasileira... uma das primeiras coisas que me alertaram foi que quando pegasse um táxi a noite, principalmente se estivesse voltando da balada, se o taxista percebesse que eu era estrangeira e perguntasse de onde eu era, que não respondesse que era brasileira, porque ele poderia interpretar mal e já havia acontecido casos do taxista tentar alguma coisa pensando que a menina fosse prostituta. Sendo assim, no começo me passei por várias coisas, quando o taxista me perguntava eu lançava um: “Ah, o que você acha?” e o que ele lançasse era o que ia. No mais, depois de algum tempo ninguém percebe que você é estrangeiro e as saias justas acabam diminuindo. Isso, é claro, se tratando de Europa, aqui no Japão a coisa é diferente, principalmente no meu caso que não tenho ascendência alguma, não tem como não ser notada, não tem como se passar por japonesa! E claro que aqui não seria diferente do resto do mundo.
O japonês tem uma boa fé nas pessoas como eu nunca vi em nenhum outro lugar do mundo. As lojas colocam suas banquinhas de oferta na calçada, o Mc Donald´s deixa aqueles brindes que acompanham os lanches infantis, em cestinhas, do lado de fora do balcão para que as próprias crianças possam ir lá e escolher..., as pessoas “estacionam” as suas bicicletas e deixam as bolsas e compras nas cestinhas, sem a menor preocupação, eu mesma adotei esse hábito. O problema é que os brasileiros (não vou citar outros grupos de estrangeiros, porque no que diz respeito a crimes, nós brasileiros lideramos o ranking) se aproveitam “dessa facilidade” e roubam sem pensar duas vezes, resultado: mais uma vez vem a generalização – se é brasileiro, é ladrão. Minha sogra conta que há anos atrás quando ela veio pra cá, quando entrava um brasileiro em um supermercado eles anunciavam no alto falante para que as pessoas dentro da loja tomassem cuidado porque ali tinha acabado de entrar um brasileiro, com certeza uma situação constrangedora ao extremo. Hoje em dia desconheço se ainda existe algum lugar que faça esse tipo de coisa, o número de estrangeiros no país aumentou bastante, mas mesmo assim ainda não somos tratados como cidadãos normais, existem, por exemplo, imobiliárias que não alugam imóveis para estrangeiros, e nesses tempos de crise não importa se o funcionário estrangeiro tem 10 anos de fábrica e trabalha muito melhor do que o japonês que está ali há pouco tempo, na hora dos cortes, os primeiros a perder o emprego são os brasileiros, por isso tem acontecido tantas passeatas organizadas por brasileiros em várias regiões aqui do Japão; a luta em questão é por direitos iguais, afinal, trabalhamos, pagamos nossas contas, nossos impostos, como qualquer cidadão japonês, contribuímos para essa economia trabalhando em serviços que os japoneses não querem trabalhar, pode estar certo de que onde há um serviço pesado, sujo ou insalubre, há um estrangeiro, há um brasileiro, então o porque da diferença?
Mas o assunto nem era esse e pra variar eu já perdi o foco hauhauahua ...voltando à floresta...
Vamos voltar ao post do jantar, eu falei que esse jantar ainda ia render... hauhauhaua
No dia do famigerado jantar, a minha professora comentou que teve um aluno brasileiro que morava em Manaus. Ele contou a ela que lá é muito quente e que por isso eles não usavam nem, bermuda nem camiseta, que para se cobrir só usavam duas folhas, uma na frente e outra atrás e que como lá não havia carros ou coisa do tipo, que todos se locomoviam usando pequenos barcos. Ela me contou que ficou chocada e pensando como seria estranho andar num lugar onde as pessoas só usavam folhas para se cobrir. Ele só desmentiu essa história algum tempo depois. E as absurdas idéias equivocadas não pararam por aí. A “japonesinha” (lembram dela?) logo na entrada do restaurante me lança essa: “Porque no Brasil todos os homens fumam?”
O que me irrita nesse tipo de situação é a segurança, a certeza da razão, a propriedade como certas pessoas colocam fatos que elas mesmas desconhecem. E continuou, agora se dirigindo à minha professora: “No Brasil todo homem fuma, mas as mulheres não, no Brasil as mulheres não fumam!”
“De onde você tirou isso? Nem todos os homens fumam, e é claro que existem mulheres fumantes no Brasil, como em qualquer outro lugar do mundo!”
“Ahhh não, não tem não! No Brasil não tem mulher que fuma, eu não vi nenhuma!”
... Agora pensa comigo, que tipo de afirmação é essa? Definitivamente eu não tenho paciência pra esse tipo de discussão, mas enfim:
“Eu sou ex-fumante” ... e logo tratei de mudar de assunto porque já estava começando a ficar irritada.
Segunda bomba da noite:
Não sei de onde surgiu o assunto, mas aí lá vem a japonesinha com essa:
“... no Brasil não tem táxi! É impressionante, você procura, procura, mas não tem nenhum táxi por lá!”
Nesse momento a minha professora vira-se pra mim a procura da confirmação de tal informação, acho que causaria estranheza a qualquer pessoa ouvir que em um país não existe um táxi sequer...
“Me diz uma coisa, em que cidade você morou no período em que esteve no Brasil?”
Ela me respondeu, mas eu não me lembro o nome da cidade, mas se trata do interior do interior, aí deu-se a minha chance:
“Também, olha onde você morou! Você sai daqui, vai até o Brasil, ao invés de sair pra conhecer São Paulo, o Rio de Janeiro, as praias do nordeste, você se enfia num fim de mundo qualquer e ainda quer encontrar táxi por lá?” hauhauahuahua ... como diz uma amiga, eu sou sádica! Hauhauhauahua Mas diga se você também não se irritaria numa situação dessa? Não, mas também não pense coisas, eu falei isso com sutileza, aquele leve sorriso no rosto e ainda disse que quando eu voltar pro Brasil, faço questão que ela vá passar umas férias lá que eu a levarei pra conhecer uns lugares...
Claro que noite a fora houveram tantas outras pérolas do gênero e eu tentei explicar que é muito difícil traçar um perfil comportamental do brasileiro, porque o nosso país é extremamente multicultural, cada região do país tem as suas particularidades, suas crenças, seu jeito de falar, de vestir, sua comida, seu tempero, seu clima, como se fossem vários países dentro de um só, não sei se ela entendeu, da mesma forma que eu não entendo muita coisa que vejo por aqui, mas é por isso que interagir é tão importante, certo?
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Há três dias estou baixando e organizando músicas para depois de gravá-las, dar de presente para a minha professora de japonês. Na verdade, foi ela que me pediu pra gravar algumas músicas americanas porque ela anda meio por fora do que está sendo lançado e também não domina muito bem a internet, então peguei algumas músicas que eu já tinha aqui, estou baixando outras também, só que aí resolver gravar um cd de MPB pra ela, tipo uma seleçãozinha com o que temos de melhor. Já tenho aqui um pouco de Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, mas ainda falta bastante coisa... aí olhando os meus arquivos de música, achei uma música do Frejat que eu gosto muito e que todos vocês devem conhecer: "Amor pra recomeçar". Eu adoro a letra dessa música! e fuçando na internet, achei a poesia na qual ela foi inspirada e a trouxe para compartilhar com vocês:
Desejo
Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
(Victor Hugo)