sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Hachiko

Sexta-feira, dia de folga, sobrou mês no fim do salário, então o jeito é ficar em casa e arrumar alguma coisa pra fazer por aqui mesmo. Daqui a pouco vou assistir aos capítulos finais de uma minissérie japonesa a qual estou assistindo chamada Haru & Natsu - As cartas que nunca chegaram. O tema é a emigração japonesa para o Brasil e foi produzida em 2005 em comemoração aos 80 anos da primeira transmissão da rede estatal japonesa NHK para o Brasil, mas depois falamos sobre isso, porque é um assunto que realmente vale a pena discutir a respeito e quero terminar de assistir para então entrar nos devidos méritos...
Bom, mas estou aqui para falar de outro filme que assisti uns dias atrás... Hachiko Monogatari. Recentemente foi lançado um remake com produção americana, com o ator Richard Gere no elenco. Esse remake leva o nome Hachi - A Dog´s Story, não sei se no Brasil chegou a ser lançado nos cinemas, mas aqui no Japão ele acabou de chegar, eu particularmente ainda não assisti mas duvido que seja melhor do que o original japonês, afinal a história é japonesa. Sobre o Hachiko Monogatari, eu o recomendo e dou a minha dica: lenços, muitos lenços, acredite... vc vai precisar! Não é preciso dizer que essa que vos escreve usou vááários... pois é, antes mesmo de assisti-lo, eu já estava chorando no trailer... lamentável, mas enfim, essa sou eu, paciência né!
Para quem não conhece a história, Hachi era um cão da raça akita, nascido em 10 de novembro de 1923, em Odate, prefeitura de Akita e virou uma lenda no Japão devido a sua inabalável fidelidade ao seu dono, o renomado Professor Ueno, do departamento de agricultura da então Universidade Imperial de Tóquio. O professor Ueno já havia tido um outro Akita e quando esse morreu, devido ao sofrimento de toda a família, decidiu que não queria mais cachorros. Tempos depois, um amigo fica sabendo de uma ninhada de Akitas puros que acabara de nascer e resolve presentear o professor com um filhote. A princípio o professor exita, mas sua filha o convence dizendo que iria cuidar do cachorro, o que não acontece. Pouco tempo depois da chegada de Hachi, a filha de Ueno fica grávida e se casa às pressas, mudando-se para uma outra cidade e deixando Hachi aos cuidados dos pais. A pedido da esposa, o professor Ueno pensa em dar Hachi a uma outra pessoa, mas logo acaba desistindo começando aí a história que mudaria a vida de ambos e que ficou imortalizada nesse país e no coração de todos que aqui chegam e a conhecem. Todos os dias, pela manhã, Hachi acompanhava o Professor até a estação de Shibuya e à tarde, sempre no mesmo horário, voltava até a mesma estação para esperar pela chegada do dono. Com o tempo, esse "ritual" de Hachi começou a chamar a atenção de todos da região que admiravam a lealdade do akita e ficavam impressionados em como ele poderia saber o horário exato em que deveria buscá-lo. E assim foi durante meses, com sol, com chuva, com neve, lá estava Hachi. Em 21 de maio de 1925 Hachi, como sempre acompanha o seu dono até a estação e volta à tarde para buscá-lo, mas dessa vez o professor não chegaria, vítima de um derrame fatal. Naquele dia, Hachi o esperou até de madrugada. Algum tempo depois, a esposa de Ueno vende a casa e vai embora morar com parentes, deixando Hachi para trás, aos cuidados de outras pessoas. Passado de um para o outro, em pouco tempo Hachi passa a morar na rua, sendo alimentado por aqueles que conheciam a sua história. Mas você deve estar se perguntando: o que faz desse cachorro uma paixão nacional e o símbolo maior do amor incondicional de um animal por um ser humano? A sua resposta é simples e incontestável: Hachi continuou a esperar pelo seu dono na estação de trem por 10 anos!! Sim, 10 anos, não digitei errado... 10 longos anos!
Por 10 anos, todo santo dia Hachi foi à estação de Shibuya esperar por seu dono e no dia 8 de março de 1935 a espera de Hachi terminou... ele foi encontrado morto, aos 11 anos e 4 meses, na mesma estação onde passou toda a sua vida a espera do seu amigo.
Em abril de 1934, foi erguida na mesma estação, uma estátua de bronze em sua homenagem. Durante a segunda guerra, assim como todas as demais estátuas, a de hachiko foi confiscada e derretida para aplicação em material bélico, mas em 1948 foi organizada uma entidade em prol da sua recriação e o filho do escultor da estátua original foi convidado para dar vida novamente ao querido Hachiko. A estátua permanece na estação de Shibuya, a qual possui 5 saídas, sendo uma com o seu nome e até hoje e é um dos principais pontos de encontro da região. Em 1988, uma réplica da estátua também foi colocada na estação de Odate, cidade natal de Hachi.
Em Shibuya, pode-se ainda ver diversos ônibus com caricaturas de Hachi e anualmente, no dia 8 de abril é feita uma cerimônia solene, na própria estação, em memória a esse símbolo maior de amor incondicional e lealdade. Hachi foi empalhado e quem quiser conferir pode vê-lo no Museu de Artes de Tóquio.
Sem dúvida, é uma história emocionante que merece jamais ser esquecida!
Difícil mesmo é conseguir tirar uma foto ao lado da estátua, é algo disputadíssimo!
Eu ainda não tenho a minha, mas assim que conseguir a colocarei aqui... enquanto isso, vou deixar uma foto da estátua e uma do próprio Hachi.
Para os amigos que estão aqui no Japão eu deixo uma mensagem em especial:
A nossa rotina de trabalho por aqui é realmente muito árdua, nos consome muito tempo nos impedindo por vezes de conhecer melhor essa cultura tão diferente e tão rica. A falta de entendimento do idioma também é um fator que pesa muito nesse processo de interação, eu sei disso pois trabalho 12 horas por dia, folgo durante a semana e isso acaba me impedindo de participar dos festivais que são sempre nos finais de semana, da mesma forma o cansaço me impede de estudar mais, para aprender a falar o mínimo para uma boa conversa... mas não podemos permitir que essas dificuldades nos impeçam de aprender, de pesquisar, de viver tudo isso que está a nossa volta. Não façam como muitos outros que só levam daqui a lembrança das duras horas de trabalho e de eventuais preconceitos sofridos. Morar fora é sempre uma experiência única e tirar proveito dela depende exclusivamente de você! O Japão não se resume à Disney... visite os parques, os museus, os bairros históricos, os festivais, os templos... "sugue" dessa cultura tudo o que puder, tudo o que conseguir... o dinheiro é importante sim, foi atrás dele que viemos aqui, mas se tem uma coisa que a vida me ensinou é que dinheiro ora se tem, ora não mais... cultura, conhecimento, isso nunca ninguém irá tirar de você e nunca é demais!
Sore de ganbatte kudasai!

Hachiko - foto de 1932 / Estátua na estação de Shibuya - Tóquio

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Acho que quase todo mundo já assistiu "Cidade dos anjos", com o Nicolas Cage e a Meg Ryan. Eu perdi a conta de quantas vezes assisti esse filme... mas o motivo de estar tocando nesse assunto é que logo no comecinho do filme tem uma cena muito legal... a menininha acaba de morrer e o anjo Seth (Nicolas Cage) vai buscá-la. Seth todas as vezes em que vai ao encontro de uma alma tem o costume de perguntar-lhe do que mais gostava na terra e quando faz essa pergunta à menininha ela sem pensar responde: de pijamas!!
Eu tb adoro pijamas, mas se algum dia um anjo for me buscar (e se for o Nicolas Cage não será nada mal...) e me fizer a mesma pergunta, sem pensar eu responderei: o nascer do sol no Japão! Eu sempre valorizei muito essas coisas, sempre gostei de olhar o céu estrelado, o nascer e o pôr do sol, a mudança das luas... ainda no Brasil, sempre que podíamos, Edgar e eu assistíamos ao pôr-do-sol, da varanda do quarto da minha sogra. Mas chegando aqui eu encontrei algo muito diferente de tudo o que eu já tinha visto antes e acredito que não exista um nascer do sol tão bonito quanto o daqui em nenhum outro lugar do mundo. Não é a toa que Japão significa justamente isso, a terra do sol nascente, pois o nascer do sol aqui é o mais poético, o mais sublime e é justamente atrás dessa vista que todos os anos milhares de pessoas se aventuram escalando o Monte Fuji no verão, para lá de cima poder ver o sol nascer acima das nuvens, quase do lado de Deus. Em época de bom tempo, quando o meu intervalo na fábrica fica por volta das 4h, 4:30h da manhã, eu posso ver esse espetáculo da janela do refeitório, e não importa quantas vezes eu o veja, a cada novo dia é uma emoção diferente, um arrepio e uma imensa alegria. Um dia eu ainda consigo uma foto para colocar aqui.
Vou deixar aqui hoje dois vídeos bem legais... um é uma animação de uma série chamada "Simon´s Cat", vou deixar o site ali nos "links legais", lá tem outros vídeos dessa série que é bem divertida, e tenho certeza de que todos aqueles que têm gatos vão se identificar nas situações. O outro vídeo é de uma música m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a, chamada Suo Gan e nesse vídeo é interpretada por um coral de meninos do King´s College. Essa música faz parte da trilha sonora de um filme de 1987, sobre a segunda guerra , do diretor Steven Spielberg, chamado Empire of the Sun, se você ainda não viu, vale a pena, aliás, esse filme trás o ator Christian Bale ainda criança e tem ainda no elenco nada mais do que John Malkovich.




P.S: Depois de 2,000 tentativas fracassadas de colocar o outro vídeo, vou deixar o link dele no youtube...
Suo Gan: http://www.youtube.com/watch?v=UM9uyA0wVIA

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fala que eu te escuto! ( e nem é o tal programa evangélico! )

Porque as pessoas não ouvem mais? Já reparou que as pessoas estão sempre muito ansiosas pela oportunidade de falar? Na primeira oportunidade falam, falam, sobre tudo e quase que num único fôlego. Falam sobre os problemas do trabalho e aí já emendam no que tem acontecido em casa, nas desavenças em família, dos problemas conjugais, dos filhos que já não obedecem mais, do pai e da mãe que pegam no pé e não deixam fazer nada e nesse mesmo fôlego ainda sobra espaço para falar dos planos, das esperanças, da viagem do final de semana...
Só que aí quando finalmente você já ouviu tudo o que tinha pra ouvir, passiva ou ativamente, já deu todas as usas opiniões e até mesmo aqueles conselhos que estavam lá no fundo do baú, quando chega então a sua vez, se a pessoa ainda lhe conceder o favor da presença para te ouvir, provavelmente se você ao final da conversa perguntar: “O que você acha disso tudo?”, ou vai causar uma saia justa ao seu “ouvinte” (antes o fosse) ou então vai ouvir um: “Ah, é assim mesmo, tente pensar bem e fazer o que achar melhor”, uma vez que esse tipo de frase serve para várias situações. Tem também aquele ouvinte que enquanto você está falando fica olhando para todos os lados, corta o seu assunto do nada e começa a falar sobre outra coisa ou então simplesmente não presta a atenção em nada descaradamente mesmo.
Definitivamente, hoje em dia, são poucos os que ainda sabem ouvir. Cada um tem o seu próprio mundo e se fecha nele como se os seus problemas sempre fossem os mais importantes e os piores, como se as suas necessidades fossem as mais urgentes e suas angústias as piores. Só ele precisa ser ouvido. Só ele precisa de conselhos.
Isso me faz pensar: será que as pessoas fazem isso num ato de absoluto egoísmo e de forma totalmente consciente ou chegamos num ponto onde ninguém consegue enxergar além de si mesmo, não percebendo, dessa forma, o que estão fazendo ou melhor, o que não fazem.
Há ainda aqueles que nunca falam sobre suas vidas, nunca se expõem e por sua vez como nunca “alugam uma orelha” acham que não tem obrigação alguma de ouvir os outros, algo como: se eu não te encho com os meus problemas, por favor faça o mesmo por mim.”
Sim, definitivamente as pessoas se tornaram mais intolerantes, mais impacientes, mais egoístas e não estou tão certa se isso se deve ao novo estilo de vida que levamos hoje em dia. É como se o homem estivesse perdendo as suas características humanas, aos poucos está se tornando uma máquina. Talvez a solução para os “carentes” de um ouvido amigo esteja em contratar um. Vamos todos fazer psicanálise, terapia, pelo menos vamos ter a certeza de que alguém está realmente nos ouvindo. Se o problema for dinheiro, afinal terapia não é um serviço tão barato, podemos tentar um amigo cão, um amigo gato ou até um amigo beta! Imagine só, você com a cabeça quente com os problemas do escritório, chegando em casa, lá vem o Rex todo feliz em te ver, você então o pega, senta no sofá e desabafa! Pode ser uma opção e com a vantagem de que ele não vai mudar de assunto no meio da conversa e nem vai dar um conselho previamente decorado para essas situações, se ele o fizer, aí sim você estará com um problema sério e deverá procurar a ajuda de um profissional.
A verdade é que a cada dia que passa o ser humano está mais só, por mais amigos que se tenha. De repente você faz planos, se entusiasma com um novo projeto, com uma nova atividade, com um novo relacionamento e geralmente antes das coisas realmente acontecerem a gente quer falar pra alguém em quem confiamos, aquela coisa de não vou contar pra qualquer um porque vai que não dá certo, mas ao mesmo tempo você quer falar sobre isso tudo e geralmente, nesses momentos da vida, quem está disponível para “orelha” é justamente aquela pessoa pra quem você não queria contar nada.
Claro que existem mil maneiras de desabafar, sem necessariamente ter alguém pra te ouvir. Você pode contar tudo pro cachorro, pra samambaia, pode falar na frente do espelho, pode escrever no seu diário, pode postar no seu blog, pode escrever anonimamente numa comunidade qualquer de um site de relacionamentos, pode conversar com Deus... pode ainda condensar tudo e transformar em uma poesia ou em uma canção, mas a verdade é que em nenhuma dessas possibilidades você vai ouvir um: "Puxa, que legal, estarei torcendo por você!” ou então um: “Que chato, mas pode contar comigo para o que precisar!”, isso com certeza será sempre insubstituível.

Então queridos amigos, o que eu os desejo hoje, é que para todos os momentos da vida, sejam eles felizes ou não, vocês possam ter boas “orelhas” para que te escutem e que vocês também possam, por muitas vezes, ser as “orelhas” de alguém e que quando a forem, que façam isso com prazer, com amor e respeito. Quanto a mim, continuarei sendo a orelha de todos, enquanto vida eu tiver e com muito prazer, sempre.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Fala sério!!!




Há alguns dias venho me perguntando algo, inclusive cheguei a comentar com uma amiga: “Será que nós brasileiros, somos os únicos no mundo que estudam história e geografia?
Me lembro que na época da escola eu adorava as aulas de geografia e detestava as de história, na verdade a única coisa em história que realmente me interessava era o estudo das civilizações da antiga Grécia e sua mitologia, todo o resto funcionava como um grande sonífero pra mim. Já as aulas de geografia me interessavam muito, sem dizer que a professora era uma figura, toda vez que a encontrávamos pelos corredores da escola ela estava a cantarolar um trecho de algum hino. Me lembro de caprichar na confecção das dezenas de mapas que fazíamos periodicamente e sempre tirava boas notas, já em história... bem, melhor pular essa parte. A questão é: se nós brasileiros, cidadãos cuja pátria só há pouco tempo passou a ser notada pelo restante do mundo e considerada como “emergente”, estudamos a história e a geografia de diversos países no mundo e nem que seja de uma maneira geral, conseguimos ter uma visão panorâmica do mapa-mundi, sabendo pelo menos discernir quem pertence a qual continente, porque ainda existe gente nesse mundo tão globalizado, cidadãos do dito mundo civilizado, desenvolvido ou como se dizia até pouco tempo atrás, “primeiro mundo”, achando que a maldita capital do Brasil é Buenos Aires?!?!?!
A verdade é que o nosso país não é muito conhecido no que vai além de futebol e carnaval e sinceramente, não há nada de errado nisso, é normal que a gente acabe sabendo somente aquilo o que chama mais a atenção no que diz respeito a um país. Todo mundo sabe que a Itália é o país das massas, que a França é a terra da Torre Eiffel, que o Japão é a terra do sushi e do sashimi, mas poucas pessoas realmente conhecem a cultura desses países, suas particularidades, dessa mesma forma, nós brasileiros somos o povo da terra do futebol e das belas mulatas... entretanto, existe algo de longe muito pior do que o anonimato e se chama “idéia equivocada”. Criou-se por aí uma idéia muito estranha de como seria o Brasil. Quem lembra da Copa de 94?? ... o ano do tetra! Exatamente no mês dos jogos eu estava na Inglaterra e o Brasil estava na boca de todos. Na cidade onde eu estava estudando as ruas foram enfeitadas com as bandeiras dos países europeus que estavam na disputa e me lembro de que os outros estudantes sempre me pediam pra mostrar qual entre aquelas, seria a nossa bandeira, mais que isso, um dia um vizinho inglês me aparece com um mapa da Europa pra que eu pudesse mostrar a ele onde ficava o Brasil:
“Mas o Brasil não fica na Europa!!!”
“Não?!?! ...onde fica então??”
“Na América do Sul, oras!”
“América do Sul? Onde é isso??”
...pois é, lamentável. Eu nunca fui à Eslovênia, mas pelo menos sei onde fica, mas voltando ao assunto...
Conheci várias pessoas que achavam que o nosso idioma seria o espanhol e com isso não fica muito difícil entender o porque alguns achavam ser Buenos Aires a nossa capital. Mas isso ainda não é o mais estapafúrdio. Nesse mesmo período, um dia a minha “host mother” veio me perguntar algumas coisas, do tipo como era a cidade onde eu morava, como eram as comidas, as pessoas, enfim, eu tinha levado alguns cartões postais de São Paulo, naquela época nós não tínhamos a facilidade da internet para tais explicações e antes que eu os encontrasse para mostrar ela me pergunta: “Mas no Brasil existem prédios?”
“Claro!!”
“Mas prédios altos, como em Londres?”
Quando mostrei os postais de São Paulo, a mulher ficou literalmente “passada”, em uma outra oportunidade ela comentou que achava que o Brasil fosse diferente, digamos, não tão urbano. A verdade é que existem muitas pessoas que acham que o nosso país é uma grande floresta, que não temos carros, ônibus, metrô ou mesmo trem, nosso meio de transporte oficial é a jangada, a canoinha de índio. Outra coisa importante, a imagem da mulher brasileira por aí também não é uma das melhores. O ser humano de uma maneira geral adora julgar e generalizar as coisas, então, se mora na favela é bandido, se é árabe é pão duro, se é latino é feio e ignorante e se é mulher e brasileira, aí pode ter certeza de que é puta! Tudo bem que onde há fumaça há fogo, os esteriótipos sempre surgem a partir de algo verídico, mas aí entra a questão da generalização. Sabemos que o nosso país é um grande “exportador” de mulheres que vão para a Europa principalmente para trabalhar em boates, casas de prostituição e isso já foi o suficiente para a maldita associação: se é brasileira... uma das primeiras coisas que me alertaram foi que quando pegasse um táxi a noite, principalmente se estivesse voltando da balada, se o taxista percebesse que eu era estrangeira e perguntasse de onde eu era, que não respondesse que era brasileira, porque ele poderia interpretar mal e já havia acontecido casos do taxista tentar alguma coisa pensando que a menina fosse prostituta. Sendo assim, no começo me passei por várias coisas, quando o taxista me perguntava eu lançava um: “Ah, o que você acha?” e o que ele lançasse era o que ia. No mais, depois de algum tempo ninguém percebe que você é estrangeiro e as saias justas acabam diminuindo. Isso, é claro, se tratando de Europa, aqui no Japão a coisa é diferente, principalmente no meu caso que não tenho ascendência alguma, não tem como não ser notada, não tem como se passar por japonesa! E claro que aqui não seria diferente do resto do mundo.
O japonês tem uma boa fé nas pessoas como eu nunca vi em nenhum outro lugar do mundo. As lojas colocam suas banquinhas de oferta na calçada, o Mc Donald´s deixa aqueles brindes que acompanham os lanches infantis, em cestinhas, do lado de fora do balcão para que as próprias crianças possam ir lá e escolher..., as pessoas “estacionam” as suas bicicletas e deixam as bolsas e compras nas cestinhas, sem a menor preocupação, eu mesma adotei esse hábito. O problema é que os brasileiros (não vou citar outros grupos de estrangeiros, porque no que diz respeito a crimes, nós brasileiros lideramos o ranking) se aproveitam “dessa facilidade” e roubam sem pensar duas vezes, resultado: mais uma vez vem a generalização – se é brasileiro, é ladrão. Minha sogra conta que há anos atrás quando ela veio pra cá, quando entrava um brasileiro em um supermercado eles anunciavam no alto falante para que as pessoas dentro da loja tomassem cuidado porque ali tinha acabado de entrar um brasileiro, com certeza uma situação constrangedora ao extremo. Hoje em dia desconheço se ainda existe algum lugar que faça esse tipo de coisa, o número de estrangeiros no país aumentou bastante, mas mesmo assim ainda não somos tratados como cidadãos normais, existem, por exemplo, imobiliárias que não alugam imóveis para estrangeiros, e nesses tempos de crise não importa se o funcionário estrangeiro tem 10 anos de fábrica e trabalha muito melhor do que o japonês que está ali há pouco tempo, na hora dos cortes, os primeiros a perder o emprego são os brasileiros, por isso tem acontecido tantas passeatas organizadas por brasileiros em várias regiões aqui do Japão; a luta em questão é por direitos iguais, afinal, trabalhamos, pagamos nossas contas, nossos impostos, como qualquer cidadão japonês, contribuímos para essa economia trabalhando em serviços que os japoneses não querem trabalhar, pode estar certo de que onde há um serviço pesado, sujo ou insalubre, há um estrangeiro, há um brasileiro, então o porque da diferença?
Mas o assunto nem era esse e pra variar eu já perdi o foco hauhauahua ...voltando à floresta...
Vamos voltar ao post do jantar, eu falei que esse jantar ainda ia render... hauhauhaua
No dia do famigerado jantar, a minha professora comentou que teve um aluno brasileiro que morava em Manaus. Ele contou a ela que lá é muito quente e que por isso eles não usavam nem, bermuda nem camiseta, que para se cobrir só usavam duas folhas, uma na frente e outra atrás e que como lá não havia carros ou coisa do tipo, que todos se locomoviam usando pequenos barcos. Ela me contou que ficou chocada e pensando como seria estranho andar num lugar onde as pessoas só usavam folhas para se cobrir. Ele só desmentiu essa história algum tempo depois. E as absurdas idéias equivocadas não pararam por aí. A “japonesinha” (lembram dela?) logo na entrada do restaurante me lança essa: “Porque no Brasil todos os homens fumam?”
O que me irrita nesse tipo de situação é a segurança, a certeza da razão, a propriedade como certas pessoas colocam fatos que elas mesmas desconhecem. E continuou, agora se dirigindo à minha professora: “No Brasil todo homem fuma, mas as mulheres não, no Brasil as mulheres não fumam!”
“De onde você tirou isso? Nem todos os homens fumam, e é claro que existem mulheres fumantes no Brasil, como em qualquer outro lugar do mundo!”
“Ahhh não, não tem não! No Brasil não tem mulher que fuma, eu não vi nenhuma!”
... Agora pensa comigo, que tipo de afirmação é essa? Definitivamente eu não tenho paciência pra esse tipo de discussão, mas enfim:
“Eu sou ex-fumante” ... e logo tratei de mudar de assunto porque já estava começando a ficar irritada.
Segunda bomba da noite:
Não sei de onde surgiu o assunto, mas aí lá vem a japonesinha com essa:
“... no Brasil não tem táxi! É impressionante, você procura, procura, mas não tem nenhum táxi por lá!”
Nesse momento a minha professora vira-se pra mim a procura da confirmação de tal informação, acho que causaria estranheza a qualquer pessoa ouvir que em um país não existe um táxi sequer...
“Me diz uma coisa, em que cidade você morou no período em que esteve no Brasil?”
Ela me respondeu, mas eu não me lembro o nome da cidade, mas se trata do interior do interior, aí deu-se a minha chance:
“Também, olha onde você morou! Você sai daqui, vai até o Brasil, ao invés de sair pra conhecer São Paulo, o Rio de Janeiro, as praias do nordeste, você se enfia num fim de mundo qualquer e ainda quer encontrar táxi por lá?” hauhauahuahua ... como diz uma amiga, eu sou sádica! Hauhauhauahua Mas diga se você também não se irritaria numa situação dessa? Não, mas também não pense coisas, eu falei isso com sutileza, aquele leve sorriso no rosto e ainda disse que quando eu voltar pro Brasil, faço questão que ela vá passar umas férias lá que eu a levarei pra conhecer uns lugares...
Claro que noite a fora houveram tantas outras pérolas do gênero e eu tentei explicar que é muito difícil traçar um perfil comportamental do brasileiro, porque o nosso país é extremamente multicultural, cada região do país tem as suas particularidades, suas crenças, seu jeito de falar, de vestir, sua comida, seu tempero, seu clima, como se fossem vários países dentro de um só, não sei se ela entendeu, da mesma forma que eu não entendo muita coisa que vejo por aqui, mas é por isso que interagir é tão importante, certo?






quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Há três dias estou baixando e organizando músicas para depois de gravá-las, dar de presente para a minha professora de japonês. Na verdade, foi ela que me pediu pra gravar algumas músicas americanas porque ela anda meio por fora do que está sendo lançado e também não domina muito bem a internet, então peguei algumas músicas que eu já tinha aqui, estou baixando outras também, só que aí resolver gravar um cd de MPB pra ela, tipo uma seleçãozinha com o que temos de melhor. Já tenho aqui um pouco de Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, mas ainda falta bastante coisa... aí olhando os meus arquivos de música, achei uma música do Frejat que eu gosto muito e que todos vocês devem conhecer: "Amor pra recomeçar". Eu adoro a letra dessa música! e fuçando na internet, achei a poesia na qual ela foi inspirada e a trouxe para compartilhar com vocês:

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.


(Victor Hugo)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


Em tempos de insegurança e medo do que o futuro nos reserva diante de toda essa crise ao redor do mundo, é preciso não perder a fé, o otimismo e a esperança... mas não se esqueça de que discernimento é fundamental!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Conversando é que a gente.... nem sempre se entende! rs


E o ócio continua... o bom disso é que estou aproveitando para colocar a leitura em dia e para fazer outras coisas que a falta de tempo não vinha permitindo. Quinta-feira fui à Tóquio com a Sophia. Adoooro Tóquio! Tóquio é uma cidade viva, dinâmica, com fôlego jovem, multicultural, onde você pode ser o que quiser, viver do jeito que quiser, ninguém está preocupado se você está bem ou mal vestido, se o seu cabelo é preto ou laranja e principalmente, se você é japonês ou não. É muito bom poder andar pelas ruas de Tóquio totalmente anônima, despercebida em meio à multidão, sentindo uma sensação de liberdade avassaladora, livre dos diversos tipos de preconceito e principalmente livre da violência, o que te dá o direito de usufruir com tranquilidade tudo o que você tanto trabalhou para poder comprar. Infelizmente isso não faz parte da nossa realidade no Brasil. Mas as diferenças culturais entre nós e eles não param por aí. A mulher japonesa sempre foi sinônimo de submissão no contexto familiar e por mais que hoje os tempos sejam outros, por mais que se tenha evoluído muito nesse aspecto, mesmo as mulheres mais jovens ainda mantem valores muito ultrapassados. Uma vez por semana eu tenho aula de japonês aqui mesmo, em casa. A minha professora é uma mulher de seus 40 e poucos anos, morou alguns anos em Nova Iorque, atualmente dá aulas de inglês para crianças do ensino fundamental e até onde eu sei, é uma mulher de bons recursos financeiros. Gosta muito de estrangeiros, principalmente dos brasileiros, tendo assim vários amigos, de diversas nacionalidades... resumindo, é uma mulher portadora de um conhecimento cultural mais globalizado, contudo, nas nossas conversas sobre as relações familiares, eu nunca sei quem fica mais chocada com quem! hauhauhauhauahau Edgar uma vez falou pra eu parar de colocar idéias na cabeça dela porque qualquer hora dessas o marido dela viria aqui me bater hauhauhauahau
Quando ela vem a mim para confidenciar os seus "conflitos familiares", eu juro que sempre tento me manter numa posição mais neutra, tento não colocar o meu ponto de vista porque os nossos valores são muito diferentes e eu sinto que quando eu os coloco, ela sempre fica muito confusa, porque no fundo eu sei que ela concorda comigo, mas como mudar algo que sempre foi daquele jeito? como ir contra um fator cultural que é comum a quase todos no seu país, que está lá enraízado, desde sempre... como se rebelar a isso tudo a essa altura da vida? a empatia me diz que realmente deve ser muito difícil. Mas como eu disse anteriormente, ela está na casa dos seus 40 e poucos anos e eu sinceramente achava que a geração posterior já tivesse uma nova maneira de encarar as coisas... que nada, me iludi! Essa minha professora tem uma amiga de 24 anos, a qual eu conheci ontem. Já havia um tempo que ela estava se programando para que pudessemos sair e fazer alguma coisa juntas, então, essa semana combinamos de jantar fora... as três.
Aqui vai um breve "currículo" dessa minha nova amiga: como eu disse antes, ela tem 24 anos, é formada segundo ela na "faculdade de cultura e línguas", conversa tanto em inglês como em português, é uma pessoa que já viajou bastante e inclusive já morou no Brasil durante seis meses por conta de um antigo relacionamento. A exemplo da minha professora, ela também gosta muito de estrangeiros, principalmente de brasileiros e se interessa bastante pela nossa cultura, apesar de ter uma visão bem distorcida da mesma, mas isso é assunto pra mais tarde.
Fomos jantar. Ambas são pessoas adoráveis, divertidíssimas... só que mais uma vez não sei quem ficou mais chocada com quem.
Acho que estávamos conversando sobre comida, do que gostamos, do que não, até que surge a famigerada pergunta: "E vc Rushiana (quem é Luciana? nem me lembro mais...), o que costuma cozinhar em casa?"
Quem me fez essa pergunta foi a japonesinha e a minha professora que já conhece toda a história, respondeu antes que eu pudesse abrir a boca: "Ela não cozinha nada!! quem faz a comida é o marido dela!". Vale acrescentar aqui que isso não foi falado pejorativamente, pelo contrário, minha professora se tornou a minha maior fã depois que ficou sabendo que eu não cozinho, lembro-me do grande dia em que revelei isso a ela:
Ela - Mas você não cozinha???
Eu - Não...
Ela - Mas pq???
Eu - Porque eu não gosto ué!
Ela - Mas seu marido não fica bravo? não te obriga a cozinhar?
Eu - (?!?!?!?!) Claro que não!!!
Ela - Nossa!! Isso é fantástico!!! Nunca conheci uma mulher que não cozinhasse para o marido...
Dessa vez, foi a japonesinha que ficou passada com a "sobrenatural" notícia de que existe no mundo uma mulher que não cozinha. Ficamos ali explorando o assunto durante um tempo e não me lembro o porque, mas de repente, ela me fala:
"Eu acho que toda mulher depois de casada, tem que ficar em casa, cuidando do marido, dos filhos e das tarefas domésticas, enquanto o marido sai para trabalhar... VOCÊ NÃO ACHA?"
Eu poderia ter respondido um "concordo" e acabado logo com a questão, afinal de contas, eu não tenho muita paciência pra esse tipo de discussão e no mais, argumentar no seu idioma é uma coisa, argumentar em uma outra língua onde tanto você quanto o outro não tem pleno domínio, é pior ainda, mas eu não resisto... hauhauhauha
"NÃO! NÃO CONCORDO!!!"
Nesse momento pensei que a menina fosse engasgar com o seu espaghetti...
"Não concorda?? pq?"
Aí nesse momento coloquei todos os meus argumentos de feminista ocidental, tentando mostrar à mocinha que hoje os tempos são outros, que dentro de um relacionamento ambos trabalham fora, não só por questões financeiras, mas até mesmo pela questão da satisfação pessoal... quanto à mulher, o ficar em casa para cuidar do marido, filhos e casa tornou-se uma opção pessoal, há quem goste... e sendo assim, ambos trabalhando fora, nada mais justo (porém nem sempre aplicado) que ambos dividam as atividades domésticas. Com cara de "meu Deus, o mundo está acabando", ela me pergunta:
"Mas se a mulher trabalhar fora, como ela vai cuidar da casa, fazer a limpeza, arrumar as coisas?"
Sem imaginar o que vinha pela frente, eu respondo:
"Como eu disse antes, eu acho que o casal pode tentar dividir as tarefas, e além disso, se for financeiramente possível pode-se contratar alguém para ajudar nessas tarefas domésticas, claro que estou falando em termos de Brasil." É bom eu explicar aqui que fiz questão de salientar que isso seria uma opção no Brasil, porque aqui no Japão não há empregadas domésticas, até onde a minha própria professora me explicou, somente os muito ricos tem alguém para esse tipo de função e mesmo assim raramente. E não é só porque é caro, mas principalmente porque a organização da casa é tarefa da esposa.
Voltando à conversa... nesse momento a minha professora não estava à mesa, ela havia se ausentado para falar ao celular, por isso não há participação dela nesse diálogo enriquecedor. Bom, ter tocado no assunto "ter alguém para auxiliar no serviço doméstico" libertou a socialista que existia reprimida dentro da japonesinha que me lançou essa:
"Mas não me parece justo ter alguém para limpar a sua casa, afinal, se ela trabalha limpando a sua casa, quem vai limpar a dela? e também hoje em dia todas as pessoas são iguais, não tem ninguém melhor nem pior, então eu acho que é uma discriminação ter alguém pra fazer esse tipo de serviço!!"
Nesse momento eu fui acometida por um desgosto muito profundo e uma vontade maior ainda de falar: Ai Meu Deus, não fala mais nada não... fica quietinha e me poupe de ouvir esse tipo de besteira! ... definitivamente pensamentos socialistas na hora da refeição tendem a me causar indigestão e uma grande vontade de dar uns tapas (tipo pedala Robinho) no socialista em questão.
Depois dessa, ainda perdi mais algum tempo tentando explicar que diarista, faxineira, empregada doméstica ou qualquer coisa do tipo é um trabalho como qualquer outro, que discriminação é achar que um profissional dessa área é "inferior" a qualquer outro e não ter um trabalhando pra você. Acho que ela não digeriu muito os meus argumentos, mas enfim, no que diz respeito às crenças, aos costumes, as tradições de uma determinada cultura, não tem o que se discutir... é claro que a "nossa verdade" é sempre a que faz mais sentido, mas o fato é que até dentro de um único país encontramos culturas diferentes, com hábitos e crenças bem diferentes do restante do país; o que dizer, por exemplo, das marcantes diferenças entre o sul e o nordeste brasileiro. No que diz respeito à minha conversa com a japonesinha, talvez os pontos de vista dela sejam marcados pelos fatores culturais do seu país ou talvez sejam apenas crenças pessoais, mas como representantes de países de culturas tão diferentes, acho que a experiência foi válida para o enriquecimento cultural de ambas, senão, pelo menos agora ela já sabe quem nem todas as mulheres do mundo cozinham. O fato é que acho que esse jantar ainda renderá muitos posts hauhauhauhau.
Em tempo: A foto que ilustra o post é do meu bairro preferido em Tóquio: Shibuya!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

NO BULLSHIT PLEASE!


Eu fico séculos sem postar por aqui, mas tem dias que eu resolvo escrever tudo de uma vez e considerando que eu tenho muitos dias de ócio pela frente, dá-lhe post. Mas a verdade é que eu estou engasgada com uma coisa e como o Mundo da Lua nasceu justamente com essa função, lá vai.

Para algumas coisas eu me considero uma pessoa relativamente moderna, com a mente aberta e tal, mas para outras coisas talvez a minha avó fosse mais liberal do que eu hauhauhauahua é sério! Para algumas coisas eu tenho valores extremamente rigorosos e talvez até antiquados e por que não dizer, provincianos. Quem me conhece há um pouco mais de tempo sabe eu passei por uma fase bem difícil há alguns anos, uma verdadeira sequência de fatos que mudaram a minha vida da água pro vinho, do dia pra noite e infelizmente para pior. A questão é que absolutamente tudo o que nos acontece na vida nos gera algum aprendizado, cabe a você percebê-lo, aceitá-lo e utilizá-lo. As dificuldades que me ocorreram me ensinaram muitas coisas e mudaram muita coisa em mim também, algumas pra melhor e outras pra pior e dentro dessa última categoria, acho que o que mais mudou em mim foi a questão da confiança. Eu me decepcionei muito com algumas pessoas, pessoas em quem eu confiava e com as quais eu achava que poderia contar e antes fossem essas pessoas apenas amigos, mas não, eram pessoas da minha própria família... eram, não o são mais. O fato é que desde então eu me transformei numa pessoa extremamente desconfiada e reservada. Eu observo muito as pessoas antes de abaixar a guarda e permitir que façam parte da minha vida, não me envergonho inclusive em dizer que a maioria dos amigos que tenho hoje entraram na minha vida via Edgar, que definitivamente no que diz respeito a isso que estamos falando, é o meu oposto.

Um amigo costuma dizer que sou anti-social... não deixa de ser verdade, o fato é que tenho um certo medo das pessoas, esse medo vem porque sei que me apego facilmente, me apegando eu me abro demais, confio demais e não quero que aconteça novamente o que já faz parte do passado. Então prefiro observar bem antes, sei que com isso já devo ter perdido a oportunidade de fazer boas amizades, mas todos sabemos que quando o trauma é grande o medo de errar de novo é ainda maior.

Bom, eu acabei entrando nesses méritos mas nem é esse o objetivo do post. Eu não sou uma pessoa que se impressiona facilmente. Hoje, quase completando 30 anos eu não me envergonho em dizer que me emociono assistindo a um filme, ouvindo uma música ou mesmo vendo algo bonito como uma paisagem ou uma obra de arte. Eu gosto de arte sim, em todas as suas vertentes... dança, teatro, cinema, fotografia, música, artes plásticas... não me visto na moda, tão pouco tenho peças de grandes marcas ou estilistas famosos, mas conheço sobre a maioria deles, não frequento lugares da moda, restaurantes sofisticados, mas conheço todas as normas de etiqueta... não tenho jóias, mas sei reconhecer a maioria delas e conheço as melhores lojas do ramo, só que tudo isso NÃO TEM VALOR NENHUM!! Nada disso me faz uma pessoa melhor ou pior... o que eu sei a respeito se deve a minha criação e por que eu sempre gostei do que é bonito... não porque é caro ou barato, porque é assinado por fulano ou beltrano, porque é vendido numa loja de grife ou em um camelô, mas porque é bonito. E quanto às pessoas, o que me chama a atenção nelas não é se fulano usa um terno Hugo Boss, mas se ele é solidário... não é se fulana tem jóias caras, mas se ela vai estar ali se um dia eu precisar conversar... não é se o seu carro tem isso ou aquilo, se o seu pai é dono ou não disso ou daquilo, não é se o tio da sua prima de Piracicaba tem uma mansão e seja mais o que for, mas sim, se você é humano.

Eu não sou socialite para estar a procura desse tipo de amigos. Eu quero perto de mim pessoas de bem com a vida, bem humoradas, divertidas, companheiras, leais, solidárias, compassivas, enfim, pessoas de bom coração, com quem eu possa contar! Se você tem isso ou aquilo outro, parabéns, mérito seu, mas não tente usar isso pra me impressionar porque não rola, pelo contrário... no mais eu acho que a minha amizade nem vale tanto esforço assim hauhauhauahua

Eu disse que não me impressiono facilmente... talvez não seja tão verdade assim, porque eu fico extremamente comovida e impressionada com as pessoas que são capazes de cuidar das outras, de tentar amenizar o sofrimento do outro, que se preocupam com o próximo...

Talvez se houvesse mais solidariedade e fraternidade no mundo não teríamos tanta miséria no mundo, tanta desgraça... se o homem não vivesse na eterna ganancia de ter o que é do outro não existiriam tantas guerras, tanta morte em vão, tanta maldade...

O que faz falta no mundo é pessoas com mais amor no coração, pessoas que respeitem a vida e todas as suas formas... é isso que falta no mundo e não carros turbinados e relógios caros.

Então não me faça perder o meu tempo e meu bom humor com esse tipo de conversa... não me faça ter ainda mais preguiça das pessoas do que eu já tenho...

No mais, eu costumo dizer sempre que: "Berço não se compra, ou se nasce com ele ou não"


SnowBUnders em Nagano


Eu adoro o inverno no Japão. É sério, não me lembro de gostar tanto do inverno no Brasil ou mesmo na Europa, acho que é porque aqui o inverno é mais ensolarado, são poucos os dias nublados com garoa como acontece em São Paulo e em Londres. Agora pense em inverno... o que te ocorre? chocolate quente, sopa no pão italiano, fondue, pantufa quentinha, assistir tv enrolado na coberta e... temporada de esqui! Esqui não?!?! Pq?!? Esqui sim! Acho que a maioria das pessoas pelo menos 1 vez na vida já tiveram a curiosidade de esquiar ou pelo menos de visitar uma estação de esqui, acredito que a neve de uma maneira geral gera um atrativo muito grande principalmente para nós brasileiros e a maior prova disso que estou falando é o número de brasileiros que nos últimos 2, 3 anos tem espremido todas as suas economias para rolar montanha abaixo em estações de esqui no Chile, é como se de repente, Bariloche tivesse se tornado a Aspen da classe média brasileira. Bom, a questão mais importante é que agora eu faço parte desse não mais tão seleto assim grupo de pessoas que podem bater no peito e dizer: sim, eu rolei montanha abaixo! Só que no meu caso não foi em Bariloche e muito menos em Aspen. Fui para Nagano. No Japão existem várias estações de esqui e a sua prática é bem popular, principalmente entre os jovens e não tem aquele esteriótipo de que só esquia quem tem muito dinheiro... não, esquia quem quiser e tiver coragem para tal. Há um mês mais ou menos combinamos entre amigos, organizamos as nossas folgas, procuramos uma agência de viagem, alugamos um carro maior e com kit para neve, esvaziamos a nossa conta bancária e na sexta-feira passada (23) partimos rumo a nossa aventura, primeira vez de todos quanto ao esqui. Daqui até Nagano são quase 5 horas de viagem, mas a paisagem acaba te envolvendo de forma que quase não se percebe toda essa distância. É extremamente interessante acompanhar a gradual mudança da paisagem... saindo de Tóquio, logo aparecem as primeiras montanhas, cidades que começam em um vale e avançam em meio às próprias montanhas , algumas regiões de campo aberto e após algumas horas, as primeiras montanhas com o cume coberto de neve e até alguns lagos congelados, sem dúvida uma visão maravilhosa e muitas vezes até indescritível.

Quase 5h depois, chegamos ao hotel. Eu acho super prático o japanese style de alguns hotéis por aqui, principalmente para viagens curtas e quando se esta em grupo. É mais barato, cada um puxa o seu futon pra um canto e pronto! Melhor que isso só se as acomodações do hotel fossem no japanese style e o cardápio do restaurante fosse no melhor estilo ocidental, aliás, cardápio brasileiro se não fosse pedir muito, aí sim, seria perfeito. No Brasil, toda vez que Edgar e eu íamos viajar, eu fazia a seleção dos hotéis ou pousadas pelo café da manhã, a questão da acomodação propriamente dita era secundária... o quarto nem precisava ser grande coisa contanto que o café da manhã fosse O café! Por aqui até hoje eu tive que me contentar com o café da manhã no estilo japa mesmo, com todas aquelas coisas que eu nem ouso colocar na boca para saber o que é... me desculpe mas não coloco meesmo...!

Para a sexta-feira, combinamos que ficaríamos no hotel mesmo, para descansar, aproveitar o onsen e só no sábado então iríamos esquiar e foi o que fizemos. Após o jantar Edgar entrou em coma, Ricardo e Silva sairam para reconhecimento da área (pelo menos é o que dizem...) e Sophia e eu fomos para o Onsen pelo qual tanto lutamos na época de fechar o pacote na agência de viagens. Eu nunca tinha entrado em um onsen. Eu sempre via na tv japonesa os programas sobre viagem mostrando aqueles lugares lindos, geralmente em meio às montanhas e sempre havia um onsen. Pra quem não conhece, onsen é um termo japonês para águas termais. O Onsen pode ser em um ambiente interno ou a céu aberto, que é o mais legal. Imagine, você pode se banhar em água quentinhas enquanto neva a sua volta e dependendo do lugar ainda pode curtir a paisagem. No hotel onde ficamos havia o onsen coberto e o a céu aberto, que foi justamente aonde ficamos... nós duas, a neve e os -7ºC. Foi ótimo, pq na sexta ainda não havia quase ninguém no hotel, então o onsen foi só nosso... nosso até a saída, pq quando estavamos terminando de secar o cabelo entra uma japa sem noção com o filhO de uns 10 anos (lembrando que o onsen em questão era dividido por sexo)... posso até imaginar os comentários na escola na segunda-feira: "cara, vc não sabe, entrei no onsen com a véia e tinha uma gaijin lá... finalmente eu entendi o que quer dizer celulite!!"... lamentável.

Hora de dormir... eu particularmente acho que as pessoas que roncam deveriam pagar mais impostos, cada uma na sua categoria de ronco. Veja bem, quando um ser humano ronca do seu lado, ele atrapalha o seu sono, eleva o seu nível de tensão, danifica a sua audição, enfim, ele prejudica drasticamente a sua qualidade de vida. Digo mais, quando você passa a noite em claro por conta do roncar alheio, no dia seguinte, o seu desempenho no trabalho é reduzido e se vc trabalha com maquinário ou qualquer outra coisa que exija a sua total atenção, o sono em questão pode colocar a sua vida em risco, ou seja, pessoas que roncam demais podem ser responsáveis até pela morte de terceiros... pois é... pessoas que roncam deveriam pagar mais impostos e nesse caso nosso querido amigo Silva, vulgo "homem serra elétrica" estaria falido... totalmente falido!

Sábado, dia de esquiar... após o saudável e pouco ou nada apetitoso café da manhã, lá fomos nós para a estação de esqui. Friooo, muito friooo. Procura roupa, veste roupa, troca a roupa, pega o sapato, coloca o sapato, sapato errado, o de snowboard é outro... troca o sapato, pega a prancha, aluga o óculos, compra protetor de pescoço, preenche papel, leva isso aqui, leva aquilo pra lá... 1h e meia depois de muito suar nisso tudo, estavamos finalmente prontos para rolar montanha abaixo. Todos escolhemos o snowboard na esperança de ser esse o mais fácil. Não vai dar pra entrar em muitos detalhes senão eu não acabo esse post ainda esse ano, mas a primeira descida foi algo assim, como posso dizer... lamentável hauhauhauahua Sim, pq a primeira vez vc usa a prancha durante uns 5 segundos e o resto você desce na base do ski bunda mesmo... haja bunda, pela primeira vez fiquei feliz em estar um pouco acima do peso. Eu não tenho a mínima noção de quantas vezes eu caí... já começou na saída do teleférico, quando eu caí na frente do mesmo e na visão da cadeirinha maldita vindo na minha direção eu não tive dúvida: HEEEEEELP!!! ... e lá vem o japonês correndo, coitado, me tirar da frente do teleférico kkkkkkk

Edgar, viadinho, na segunda descida já pegou o jeito e pra quem nunca tinha esquiado na vida se saiu muito bem. Eu tive umas duas quedas das quais me orgulho muito, coisa de cinema, umas 3 quicadas na pista até parar de rolar... aí vc fica lá, deitado, corpo estirado na neve, refletindo sobre o seu capote... eu particularmente caí em todas as categorias... caí de lado, de cara, de costas e na quicada. A Sophia também teve uns tombos bem cinematográficos. O Ricardo até onde eu vi também conseguiu pegar o jeito do negócio e no final estava descendo numa boa. O Silva eu nem sei, até agora ainda tenho dúvidas se ele realmente estava esquiando ou se estava correndo atrás das japas.

Eu sempre ouvi que o medo é fundamental, porque é ele que nos faz ponderar, nos dá um certo limite. A primeira vez que eu olhei lá de cima da rampa eu me senti muito insegura... a impressão que dava era que se você caisse, não teria como parar até chegar lá embaixo... e como eu demorei pra conseguir chegar lá embaixo. Na segunda vez a insegurança já tinha passado, então você começa a tentar coisas diferentes pra ver se consegue se equilibrar melhor. Desde pequena, quando eu não tenho medo do que estou fazendo eu me jogo completamente até conseguir fazer o que estou me propondo, não é a toa que tenho tantas cicatrizes, só que nessa minha falta de limite e principalmente de noção, em uma das descidas eu virei o polegar direito de uma forma que quando eu vi, pensei: "fudeu, quebrei meu dedo!" e não foi nem pela dor, minhas mãos já estavam congeladas de forma que quase nem senti dor, foi mais a visão que tive do dedo virando mesmo. Quando cheguei lá embaixo, tirei a luva, o dedo estava assim meio torto hauahuahua meio fora do lugar... "ah, já quebrou mesmo, paciência, vou descer de novo..." e assim ainda desci mais 3 vezes.

Domingo, dia de voltar pra casa. Todo mundo quebradoooo, no sentido mais profundo da palavra, no estilo se respirar dói huahauahuahau mas com ânimo suficiente para ainda parar em Tóquio pra comer um churrasco amigo no Tucano´s, um dos restaurantes brasileiros que temos por aqui e assim fechar a nossa aventura com chave de ouro.

Quanto a mim, vou ficar duas semanas de molho em casa, com o dedo devidamente imobilizado... não quebrou o osso, mas rompeu o disquinho que une um osso ao outro, paciência, vai ser um prejuízo do cacete no holerite do mês que vem, mas sabe de uma coisa? VALEU! Valeu muuuito! Valeu a experiência de fazer algo que eu nunca tinha feito antes, valeu por conhecer um lugar lindo e pelas paisagens que estão guardadas não só nas fotos, mas na minha memória e no meu coração... e valeu principalmente pela compania... todas as risadas, os bons momentos, a alegria compartilhada, enfim, a oportunidade de passar um tempinho a mais com pessoas tão especiais e tão queridas. Há muito tempo eu disse uma coisa que faço questão de repetir aqui: nós viemos ao Japão em busca principalmente de dinheiro, como todos sabem, mas sem dúvida, o maior patrimônio que vamos levar daqui são as amizades que fizemos e os bons momentos que vivemos com cada um de vocês... eu posso até ser um pouco anti-social (confesso), mas talvez isso não seja tão ruim assim porque hoje, aqueles a quem chamo de "amigos" não são qualquer um... são os mais especiais! Adoro todos vocês!