quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fala que eu te escuto! ( e nem é o tal programa evangélico! )

Porque as pessoas não ouvem mais? Já reparou que as pessoas estão sempre muito ansiosas pela oportunidade de falar? Na primeira oportunidade falam, falam, sobre tudo e quase que num único fôlego. Falam sobre os problemas do trabalho e aí já emendam no que tem acontecido em casa, nas desavenças em família, dos problemas conjugais, dos filhos que já não obedecem mais, do pai e da mãe que pegam no pé e não deixam fazer nada e nesse mesmo fôlego ainda sobra espaço para falar dos planos, das esperanças, da viagem do final de semana...
Só que aí quando finalmente você já ouviu tudo o que tinha pra ouvir, passiva ou ativamente, já deu todas as usas opiniões e até mesmo aqueles conselhos que estavam lá no fundo do baú, quando chega então a sua vez, se a pessoa ainda lhe conceder o favor da presença para te ouvir, provavelmente se você ao final da conversa perguntar: “O que você acha disso tudo?”, ou vai causar uma saia justa ao seu “ouvinte” (antes o fosse) ou então vai ouvir um: “Ah, é assim mesmo, tente pensar bem e fazer o que achar melhor”, uma vez que esse tipo de frase serve para várias situações. Tem também aquele ouvinte que enquanto você está falando fica olhando para todos os lados, corta o seu assunto do nada e começa a falar sobre outra coisa ou então simplesmente não presta a atenção em nada descaradamente mesmo.
Definitivamente, hoje em dia, são poucos os que ainda sabem ouvir. Cada um tem o seu próprio mundo e se fecha nele como se os seus problemas sempre fossem os mais importantes e os piores, como se as suas necessidades fossem as mais urgentes e suas angústias as piores. Só ele precisa ser ouvido. Só ele precisa de conselhos.
Isso me faz pensar: será que as pessoas fazem isso num ato de absoluto egoísmo e de forma totalmente consciente ou chegamos num ponto onde ninguém consegue enxergar além de si mesmo, não percebendo, dessa forma, o que estão fazendo ou melhor, o que não fazem.
Há ainda aqueles que nunca falam sobre suas vidas, nunca se expõem e por sua vez como nunca “alugam uma orelha” acham que não tem obrigação alguma de ouvir os outros, algo como: se eu não te encho com os meus problemas, por favor faça o mesmo por mim.”
Sim, definitivamente as pessoas se tornaram mais intolerantes, mais impacientes, mais egoístas e não estou tão certa se isso se deve ao novo estilo de vida que levamos hoje em dia. É como se o homem estivesse perdendo as suas características humanas, aos poucos está se tornando uma máquina. Talvez a solução para os “carentes” de um ouvido amigo esteja em contratar um. Vamos todos fazer psicanálise, terapia, pelo menos vamos ter a certeza de que alguém está realmente nos ouvindo. Se o problema for dinheiro, afinal terapia não é um serviço tão barato, podemos tentar um amigo cão, um amigo gato ou até um amigo beta! Imagine só, você com a cabeça quente com os problemas do escritório, chegando em casa, lá vem o Rex todo feliz em te ver, você então o pega, senta no sofá e desabafa! Pode ser uma opção e com a vantagem de que ele não vai mudar de assunto no meio da conversa e nem vai dar um conselho previamente decorado para essas situações, se ele o fizer, aí sim você estará com um problema sério e deverá procurar a ajuda de um profissional.
A verdade é que a cada dia que passa o ser humano está mais só, por mais amigos que se tenha. De repente você faz planos, se entusiasma com um novo projeto, com uma nova atividade, com um novo relacionamento e geralmente antes das coisas realmente acontecerem a gente quer falar pra alguém em quem confiamos, aquela coisa de não vou contar pra qualquer um porque vai que não dá certo, mas ao mesmo tempo você quer falar sobre isso tudo e geralmente, nesses momentos da vida, quem está disponível para “orelha” é justamente aquela pessoa pra quem você não queria contar nada.
Claro que existem mil maneiras de desabafar, sem necessariamente ter alguém pra te ouvir. Você pode contar tudo pro cachorro, pra samambaia, pode falar na frente do espelho, pode escrever no seu diário, pode postar no seu blog, pode escrever anonimamente numa comunidade qualquer de um site de relacionamentos, pode conversar com Deus... pode ainda condensar tudo e transformar em uma poesia ou em uma canção, mas a verdade é que em nenhuma dessas possibilidades você vai ouvir um: "Puxa, que legal, estarei torcendo por você!” ou então um: “Que chato, mas pode contar comigo para o que precisar!”, isso com certeza será sempre insubstituível.

Então queridos amigos, o que eu os desejo hoje, é que para todos os momentos da vida, sejam eles felizes ou não, vocês possam ter boas “orelhas” para que te escutem e que vocês também possam, por muitas vezes, ser as “orelhas” de alguém e que quando a forem, que façam isso com prazer, com amor e respeito. Quanto a mim, continuarei sendo a orelha de todos, enquanto vida eu tiver e com muito prazer, sempre.

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