sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Hachiko

Sexta-feira, dia de folga, sobrou mês no fim do salário, então o jeito é ficar em casa e arrumar alguma coisa pra fazer por aqui mesmo. Daqui a pouco vou assistir aos capítulos finais de uma minissérie japonesa a qual estou assistindo chamada Haru & Natsu - As cartas que nunca chegaram. O tema é a emigração japonesa para o Brasil e foi produzida em 2005 em comemoração aos 80 anos da primeira transmissão da rede estatal japonesa NHK para o Brasil, mas depois falamos sobre isso, porque é um assunto que realmente vale a pena discutir a respeito e quero terminar de assistir para então entrar nos devidos méritos...
Bom, mas estou aqui para falar de outro filme que assisti uns dias atrás... Hachiko Monogatari. Recentemente foi lançado um remake com produção americana, com o ator Richard Gere no elenco. Esse remake leva o nome Hachi - A Dog´s Story, não sei se no Brasil chegou a ser lançado nos cinemas, mas aqui no Japão ele acabou de chegar, eu particularmente ainda não assisti mas duvido que seja melhor do que o original japonês, afinal a história é japonesa. Sobre o Hachiko Monogatari, eu o recomendo e dou a minha dica: lenços, muitos lenços, acredite... vc vai precisar! Não é preciso dizer que essa que vos escreve usou vááários... pois é, antes mesmo de assisti-lo, eu já estava chorando no trailer... lamentável, mas enfim, essa sou eu, paciência né!
Para quem não conhece a história, Hachi era um cão da raça akita, nascido em 10 de novembro de 1923, em Odate, prefeitura de Akita e virou uma lenda no Japão devido a sua inabalável fidelidade ao seu dono, o renomado Professor Ueno, do departamento de agricultura da então Universidade Imperial de Tóquio. O professor Ueno já havia tido um outro Akita e quando esse morreu, devido ao sofrimento de toda a família, decidiu que não queria mais cachorros. Tempos depois, um amigo fica sabendo de uma ninhada de Akitas puros que acabara de nascer e resolve presentear o professor com um filhote. A princípio o professor exita, mas sua filha o convence dizendo que iria cuidar do cachorro, o que não acontece. Pouco tempo depois da chegada de Hachi, a filha de Ueno fica grávida e se casa às pressas, mudando-se para uma outra cidade e deixando Hachi aos cuidados dos pais. A pedido da esposa, o professor Ueno pensa em dar Hachi a uma outra pessoa, mas logo acaba desistindo começando aí a história que mudaria a vida de ambos e que ficou imortalizada nesse país e no coração de todos que aqui chegam e a conhecem. Todos os dias, pela manhã, Hachi acompanhava o Professor até a estação de Shibuya e à tarde, sempre no mesmo horário, voltava até a mesma estação para esperar pela chegada do dono. Com o tempo, esse "ritual" de Hachi começou a chamar a atenção de todos da região que admiravam a lealdade do akita e ficavam impressionados em como ele poderia saber o horário exato em que deveria buscá-lo. E assim foi durante meses, com sol, com chuva, com neve, lá estava Hachi. Em 21 de maio de 1925 Hachi, como sempre acompanha o seu dono até a estação e volta à tarde para buscá-lo, mas dessa vez o professor não chegaria, vítima de um derrame fatal. Naquele dia, Hachi o esperou até de madrugada. Algum tempo depois, a esposa de Ueno vende a casa e vai embora morar com parentes, deixando Hachi para trás, aos cuidados de outras pessoas. Passado de um para o outro, em pouco tempo Hachi passa a morar na rua, sendo alimentado por aqueles que conheciam a sua história. Mas você deve estar se perguntando: o que faz desse cachorro uma paixão nacional e o símbolo maior do amor incondicional de um animal por um ser humano? A sua resposta é simples e incontestável: Hachi continuou a esperar pelo seu dono na estação de trem por 10 anos!! Sim, 10 anos, não digitei errado... 10 longos anos!
Por 10 anos, todo santo dia Hachi foi à estação de Shibuya esperar por seu dono e no dia 8 de março de 1935 a espera de Hachi terminou... ele foi encontrado morto, aos 11 anos e 4 meses, na mesma estação onde passou toda a sua vida a espera do seu amigo.
Em abril de 1934, foi erguida na mesma estação, uma estátua de bronze em sua homenagem. Durante a segunda guerra, assim como todas as demais estátuas, a de hachiko foi confiscada e derretida para aplicação em material bélico, mas em 1948 foi organizada uma entidade em prol da sua recriação e o filho do escultor da estátua original foi convidado para dar vida novamente ao querido Hachiko. A estátua permanece na estação de Shibuya, a qual possui 5 saídas, sendo uma com o seu nome e até hoje e é um dos principais pontos de encontro da região. Em 1988, uma réplica da estátua também foi colocada na estação de Odate, cidade natal de Hachi.
Em Shibuya, pode-se ainda ver diversos ônibus com caricaturas de Hachi e anualmente, no dia 8 de abril é feita uma cerimônia solene, na própria estação, em memória a esse símbolo maior de amor incondicional e lealdade. Hachi foi empalhado e quem quiser conferir pode vê-lo no Museu de Artes de Tóquio.
Sem dúvida, é uma história emocionante que merece jamais ser esquecida!
Difícil mesmo é conseguir tirar uma foto ao lado da estátua, é algo disputadíssimo!
Eu ainda não tenho a minha, mas assim que conseguir a colocarei aqui... enquanto isso, vou deixar uma foto da estátua e uma do próprio Hachi.
Para os amigos que estão aqui no Japão eu deixo uma mensagem em especial:
A nossa rotina de trabalho por aqui é realmente muito árdua, nos consome muito tempo nos impedindo por vezes de conhecer melhor essa cultura tão diferente e tão rica. A falta de entendimento do idioma também é um fator que pesa muito nesse processo de interação, eu sei disso pois trabalho 12 horas por dia, folgo durante a semana e isso acaba me impedindo de participar dos festivais que são sempre nos finais de semana, da mesma forma o cansaço me impede de estudar mais, para aprender a falar o mínimo para uma boa conversa... mas não podemos permitir que essas dificuldades nos impeçam de aprender, de pesquisar, de viver tudo isso que está a nossa volta. Não façam como muitos outros que só levam daqui a lembrança das duras horas de trabalho e de eventuais preconceitos sofridos. Morar fora é sempre uma experiência única e tirar proveito dela depende exclusivamente de você! O Japão não se resume à Disney... visite os parques, os museus, os bairros históricos, os festivais, os templos... "sugue" dessa cultura tudo o que puder, tudo o que conseguir... o dinheiro é importante sim, foi atrás dele que viemos aqui, mas se tem uma coisa que a vida me ensinou é que dinheiro ora se tem, ora não mais... cultura, conhecimento, isso nunca ninguém irá tirar de você e nunca é demais!
Sore de ganbatte kudasai!

Hachiko - foto de 1932 / Estátua na estação de Shibuya - Tóquio

0 comentários: